terça-feira, 2 de novembro de 2010

Balanço do resultado das eleições para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

     
 O Partido dos Trabalhadores ganhou as eleições e Tarso Genro será o
próximo governador do Rio Grande. Mas isso está muito longe de ser o povo
no exercício do poder. Pelo contrário, o modelo petista provou, ao longo
dos últimos 20 anos, ser um modo superior de administração dos interesses
dominantes. O partido ganhou status de elite dirigente nacional e a
administração petista o reconhecimento do FMI e do Banco Mundial,
chegando ao governo sem mudar a relação de poder.
       
Não foram poucos os militantes de base envolvidos nesta campanha
eleitoral, motivados também pela enorme rejeição que representou o
Governo corrupto e repressivo de Yeda Crusius e seus aliados. Porém, a
vitória de Tarso tampouco representa a derrota do projeto neoliberal
traçado a longo prazo para o Estado. Para fazermos uma projeção lúcida do
que representará os próximos 4 anos com o PT e Tarso Genro no Estado,
distante da euforia, é importante relembrar o que representou o partido
no governo do RS (período 1999-2002) e ainda Tarso na Prefeitura de Porto
Alegre (período 2000-2004 junto com Verle).

O PT e Tarso nos governos municipal e Estadual

       
A gestão petista de 1999 a 2002 no Estado é um didático exemplo da
cooptação como uma arma de governo para controlar os movimentos sociais.
Nessa ocasião a ex-dirigente do CPERS Lucia Camini assumiu o posto de
Secretária de Educação e não atendeu a pauta da greve dos trabalhadores
em educação. Na avaliação do governo o pedido era de calma aos
trabalhadores e na interna da categoria o sindicato foi desgastado por
aqueles dirigentes que faziam correia de transmissão dos interesses do
partido no governo.
       
Já Tarso na Prefeitura de Porto Alegre juntamente com Verle, deixou de
herança o fim da bimestralidade dos trabalhadores municipários e
contribuiu com o processo de sucateamento do serviço público. Foi na
gestão petista também que teve início a corrupção envolvendo a Prefeitura
e as empresas de coleta do lixo num esquema de norte a sul do Brasil
conhecido mais tarde como máfia do Lixo onde o caixa 2 financiador das
campanhas veio à tona.
 
A revitalização do centro e a repressão aos trabalhadores informais,
carroceiros e carrinheiros também fizeram parte da política levada pela
Prefeitura alinhada com as diretrizes do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID).
 
Não foi à toa que a gestão Tarso/Verle representou o fim de 16 anos
consecutivos de administração do PT na Prefeitura da Capital. Foi um longo
processo de cooptação e desgaste do movimento popular através de
mecanismos como o Orçamento Participativo, que culminaram com a retirada
de direitos dos servidores públicos, a repressão aos trabalhadores
informais e o enfraquecimento das comunidades.

A volta do PT e a relação com o Banco Mundial e a Agenda 2020

        
Para os mais otimistas, o Partido dos Trabalhadores não somente volta ao
governo depois de 8 anos, mas também leva a marca histórica de ser
eleito no primeiro turno, além de garantir uma representação majoritária
na Assembléia Legislativa. Porém, não devemos fazer uma análise reduzida
ao último pleito, pois há uma estratégia neoliberal para o Rio Grande do
Sul que vem sendo construída antes mesmo das penúltimas eleições, em
2006. Foi também jogar dentro das regras do jogo que fez a coligação de
Tarso chegar ao Governo.
 
Em uma dessas articulações que na época foi chamada de Pacto Pelo Rio
Grande, o PT fez consenso com as mudanças estruturais no Estado de caráter
neoliberal e nos anos seguintes aprovou e militou o nefasto acordo com o
Banco Mundial levado a cabo por Yeda Crusius.
 
Não devemos nos surpreender com os fatos. Tarso Genro, onze dias após o
resultado das eleições, anuncia na sede do Banco Mundial em Brasília a
continuidade dos acordos firmados pelo atual Governo do Estado com o
organismo internacional. Além disso, faz o pedido de um novo empréstimo
para 2011. Outro fato corrente, em menos de três semanas após o pleito,
foi a presença de Tarso como convidado de honra do encontro da Agenda
2020, formalizando o apoio ao projeto.

Quando a arma do diálogo esconde a cooptação.


No discurso feito algumas poucas horas depois do resultado, Tarso disse

que irá governar usando a arma do diálogo. Mesmo assim, o Governo de Tarso
não representará de fato uma ruptura com o projeto político definido pela
estratégia neoliberal.
 
O chamado governo da coalização de Tarso se diz utilizar da mesma
tecnologia empregada por Lula, ou seja, a colaboração de classes. É a
mesma engenharia do pacto social dos 8 anos de gestão petista no governo
federal que será adotada no Estado. O mecanismo de acomodar os interesses
enfraquece e seduz os de baixo para a cooptação, sem confrontar os planos
dominantes que acabam prevalecendo.
 
Comparando com Yeda Crusius, a principal mudança é no método, pois se nos
últimos 4 anos o tratamento dado aos movimentos sociais foi a repressão e
a truculência, podemos esperar que os próximos serão marcados pela
enrolação e pela cooptação. As reivindicações serão recebidas, mas não há
garantia de que serão atendidas, pois o Estado está comprometido e
endividado com o Banco Mundial. A partir de então, com o provável desgaste
estará acompanhado o forte risco de cooptação, conforme o próprio PT em
distintos níveis de governo já demonstrou historicamente ser uma forma
superior de administração burguesa.

Fortalecer a solidariedade e a independência de classe pra derrotar o

Banco Mundial
       A tarefa que nos cabe enquanto lutadores do povo e militantes da esquerda
com intenções reais de transformação é difícil, mas, necessária. Este
novo governo não difere do anterior com relação às questões estruturais
do Rio Grande. O grande esforço a ser feito é desmascarar a política
neoliberal que está por trás do discurso de crescimento e das promessas
de campanha.
      
 Exemplo: por detrás dos prometidos investimentos no saneamento que
acompanham a ampliação do tratamento de esgoto, do abastecimento de água
e da viabilização de 100 novos galpões de reciclagem estão em curso
outros interesses. Não é a toa que a galope está o processo de
privatização da CORSAN a partir dos municípios e também a terceirização
do serviço de coleta para as empreiteiras. Resistir às multinacionais da
água e máfia do lixo é parte da garantia de um futuro digno para o povo
em franca oposição as ordens do Banco Mundial e os respectivos governos
eleitos.
       
Alguns direitos fundamentais como a manutenção do plano de carreira, o
piso nacional para os professores e a Reforma Agrária, por exemplo, só
serão garantidos plenamente confrontando os interessas do Banco Mundial
que envolvem a implantação da meritocracia e a expansão do agronegócio,
respectivamente. Na prática, não há diálogo entre modelos opostos, pois
este novo governo demonstra ao discursar isso a intenção em cooptar para
supostamente atender a todos.
      
 Para além dos projetos de governo, reivindicações básicas como a garantia
de um serviço público de qualidade para o povo, de um salário digno para
os trabalhadores e uma efetiva implementação do SUS, são conquistas que
contrapõem as políticas neoliberais das terceirizações, das OSCIPs e
Fundações. Portanto, não há medida de conciliação possível quando os
fatos em curso nos colocam na condição de resistência.
       
Em tempos de alívio ou euforia para muitos companheiros militantes do
dia-a-dia com a chegada de Tarso ao Governo do Estado, firmamos a
necessidade de uma aliança entre todos os setores das classes oprimidas
para resistir ao neoliberalismo. Nosso maior inimigo está instalado no
aparelho de Estado pelos próximos 30 anos e conta com o consentimento dos
distintos governos e a cumplicidade dos meios de comunicação.
       
Ao contrário do que diz a mesma mídia que mentiu e omitiu a respeito do
contrato junto ao Banco Mundial, a esquerda não chegou ao poder com a
vitória. É hora de reinventar, reagrupar as forças e confluir para
projetos comuns e objetivos de resistência palpáveis.

Federação Anarquista Gaúcha

Outubro de 2010
www.vermelhoenegro.co.cc

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